Garota, mulher, outras

Com toda certeza, a personagem que eu gostaria de vestir minha pele seria Amma. Precisou trabalhar duro, e não rompeu com sua filosofia de vida. Mulher guerreira e livre. Escolheu a dedo o pai de sua própria filha: um homem gay, chamado Roland. Único a ocupar o lugar de fala no romance… mas prefiro ser um mosaico de todas elas dentro de mim, como um caleidoscópio.

 

A cada giro, revela uma identidade, uma máscara, uma vida, várias vidas. Ela, Amma, é a líder de todas essas amazonas fortes e frágeis, robustas e sensíveis. Construiu uma narrativa incrível! Não conseguia para de ler, muito menos parar de pensar em cada uma delas.

 

Sou sim… a corajosa e inovadora Amma

 

Sou sim… a confiante e impertinente Yazz

 

Sou sim… a ambivalência e sedução de Dominique

 

Sou sim… a harmonia e superação de Carole (muitas lágrimas, por horas)

 

Sou sim… a honestidade e determinação de Bummi (lembrei muito de Bitita)

Sou sim… a trabalhadora incansável e a autosuficiência de La Tisha

 

Sou sim… a intransigência e afetação de Shirley (minaram reflexões sobre minha carreira)

 

Sou sim… a pouca convencionalidade e a a sensualidade obscura de Winsome

 

Sou sim… a timidez e a vulnerabilidade de Penelope (reflexões sobre a carreira)

 

Sou sim… a fragilidade e a sensibilidade de Megan/Morgan

 

Sou sim… a coragem e a liderança de Hattie (chorei muito, por dias)

 

Sou sim… a Cleópatra Imperatriz do Nilo… de Abissínia… Etiópia de Grace (muito choro também, até hoje. Uma espécie de catarse mesmo)

 

Sou sim agradecida por demais ao Veredas, por me apresentar a obra dessa escritora sensacional, que me presentou mulheres reais, em carne viva, com suas dores e, acima de tudo, com a capacidade de superar e reescrever uma nova vida para seus descendentes.

 

Tive uma sensação de estar num jogo de cartas de tarô. A cada momento, uma surpresa, uma revelação. Muitas mulheres dentro de mim, no meu sangue, como uma torrente não só de dois pólos, mas de uma multifacetada de cem, de mil pétalas de mulheres, garotas e outras.

 

Como fez Hattie e Grae, ousaram em pesquisar na corrente de suas serpentes internas, uma história surpreendente. Todas ligadas por um cordão invisível dentro de seus corações, todas à caminho de suas “últimas Amazonas do Reino de Daomé”.

 

Angelita Gomes Maciel

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