Assistir a Clarice Niesckier na peça A Alma Imoral, adaptada por Hamir Haddad e interpretada e dirigida por ela mesma, baseada no livro homônimo de Nilton Bonder, é uma experiência muito íntima.
O texto, de fundo filosófico-judaico, trata da dicotomia Tradição x Transgressão e do equilíbrio que essa dicotomia propicia para avanços nas culturas, mesmo nas mais tradicionais.
É claro que a peça é um recorte muito bem alinhavado por Haddad, mas as reflexões filosóficas de Bonder estão ali.
Assisti à peça anos atrás, e depois de uma primeira experiência com a peça, tive a oportunidade de reencontrá-la em teatros da cidade por mais duas vezes em espaços de tempo consideráveis.
Em todas as vezes descobri diferentes sutilezas no texto que me atraíam muito, mas o que me pegou mesmo foi a potência que o texto adquiriu sob a batuta e atuação de Niesckier… o domínio dela no palco é impressionante. Há delicadeza, há força e há beleza no trato do texto. Os elementos cênicos são enxutos e o destaque é o texto, que não é fácil, diga-se de passagem.
Ao longo da peça, Niesckier trabalha um desnudar-se e cobrir-se constante, é um balé, uma dança, a dança da existência (nas palavras da atriz)… a nudez não é uma nudez sensual, mas uma nudez que retrata a necessidade do texto, que precisa se despojar de qualquer máscara… só uma mulher conseguiria dar ao texto, escrito por um homem, a dignidade e a beleza que ele merece.
A Alma Imoral segue em cartaz desde 2006.