Fruta estranha

“Árvores do sul produzem uma fruta estranha,
sangue nas folhas e sangue nas raízes,
corpos negros balançando na brisa do sul,
frutas estranhas penduradas nos álamos”

 

1936, Abel Meeropol, um professor judeu no Bronx em Nova York, sob o pseudônimo Lewis Allan, publica, no The New York Theater, o poema “Strange Fruit”. Aqui começa a história de uma das canções mais emblemáticas e importantes de todos os tempos.

 

A fruta estranha dos versos de Meeropol foi inspirada no registro fotográfico do linchamento de dois homens negros, Thomas Shipp e Abram Smith, em Marion no estado de Indiana, Estados Unidos, ocorrido em 7 de agosto de 1930.

 

Passado algum tempo da publicação, o próprio Meeropol musicou os versos e, agora, a canção começou a ter uma certa repercussão pela região de Nova York.

 

Em certa noite, o professor e sua esposa, Laura Duncan, uma vocalista negra, apresentam a canção no Madison Square Garden. Na plateia, Barney Josephson, o fundador do Café Society, a primeira casa noturna integrada, uma espécie de clube noturno que reunia socialistas, comunistas, sindicalistas e democratas. Através de Barney o próximo destino de Strange Fruit são os ouvidos de Billie Holiday, a dama do jazz.

 

Lady Day apresentou-a pela primeira vez em 1939 no Café Society. Foi um choque. Segundo a própria Billie, quando terminou de cantar fez-se um silêncio total, e então, em seguida, aplausos nervosos tomaram conta da casa.

 

Em meio a aplausos e perseguições, Strange Fruit iniciou sua saga tornando-se um hino na luta contra o racismo firmando-se no Hall da Fama do Grammy, em 1978, e sendo incluída na lista das canções do século de Recording Industry of America.

 

Os versos potentes de Strange Fruit permanecem ao longo do tempo. Estão impressos na história da música dos Estados Unidos e podem, por exemplo, ser “ouvidos” permeando cada linha de histórias como a do livro Kindred – Laços de Sangue, da escritora estadunidense Octavia Butler, esta narrativa instigante da dama da ficção científica e do afrofuturismo, sobre a qual você pode ler aqui.

 

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